domingo, 17 de maio de 2009

TRATO.

TRATO (por Eduardo Baszczyn)





"vamos combinar, então, que da próxima vez eu abandono esse papel de santa. nada de coração, sentimento ou paixão. nada dessas palavras que a gente encontra em versos e poesias de cartão mal escrito. fica combinado que, da próxima vez, você vai se divertir em outro lugar. vai torcer contra mim sentado em outra arquibancada. rir de outra piada. fica assim, então, combinado. eu não choro mais de madrugada, não me chamo mais de tonta em frente ao espelho, não borro mais com a mão o meu batom vermelho. não puxo os meus cabelos. não brigo mais. nada de gritos e palavrões. nada de portas batidas rachando as paredes aos poucos. nada de perseguições. fica combinado que eu não acredito mais em bonecos de noivos em cima de bolo cheio de creme. em fatia cortada de baixo pra cima. em goles de bebida em copos cruzados. combinado, então. eu não me derreto mais com flores no meio do dia. não acredito mais em frases quase dentro da orelha. em lambidas no pescoço. em telefonemas. não me admiro mais com laço grande em caixa de presente. fica combinado que não sou mais a boazinha, a paciente. a partir de hoje, pedra no lugar do coração. fica combinado que não haverá mais sofrimento, dor, envolvimento. a partir de hoje, abandono de vez o papel de santa. serei puta. a partir de hoje, nem beijo na boca."









(simone)

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